Confira abaixo a entrevista de João Rocha Rodrigues concedida à Palavras Projetos Editoriais. Em seu livro de estréia, Vai, DJ! – O intrigante caso dos discos perdidos, João conta a história de Rosa, uma jovem moradora da periferia de São Paulo, que descobre uma coleção de capas de discos da MPB em sua casa, que no entanto estavam vazias. A partir desse mistério, Rosa vai descobrindo a história e a obra de Elifas Andreato, um dos mais importantes artistas gráficos do Brasil. A obra foi aprovada no PNLD 2021 Literário, saiba como garantir a obra em sua escola clicando aqui.

Jornalista, diretor audiovisual e roteirista, João Rocha Rodrigues especializou-se na criação, pesquisa e desenvolvimento de conteúdos sobre cultura brasileira para diversas plataformas, como TV, exposições, livros e revistas. No campo audiovisual, realizou a concepção e direção de conteúdo dos programas Almanaque Brasil e O Teco-Teco, roteirizou e dirigiu os documentários Esquina do Mundo, Laerte em Terceira Pessoa, Gracias a Gracia e Elifas Andreato: Um Artista Brasileiro, entre outros.

Foi editor da revista Almanaque Brasil e de livros como O Sonho de Voar: Histórias da aviação no centenário do 14-Bis, Brazil: Energy & Opportunities e da série Brasil 2014: Campo das ideias. Organizou os livros Viva o Brasil, Em se Plantando, Tudo Dá, Almanaque Brasil: Todo Dia é Dia e Almanaque Brasil: 15 Anos de Histórias, entre outros. Foi ainda responsável pela supervisão editorial de exposições como Histórias do Rádio no Brasil, Bossa’50 e Let’s Rock, além de idealizador e curador das exposições Elifas Andreato: Contornos da Música Carioca e Elifas Andreato, 50 Anos.

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Palavras Projetos Editoriais: Como surgiu a ideia de construir uma obra de ficção baseada na obra de Elifas Andreato?

João Rocha Rodrigues: O convite partiu da editora Palavras, que imaginava um livro que fosse um diálogo entre um jornalista e Elifas Andreato. A encomenda veio porque tenho bastante proximidade com a obra de Elifas: dirigi um documentário, fiz curadorias de exposições, trabalhamos juntos em diversos projetos. E justamente por conta dessas muitas produções acerca da obra dele, sentia falta de uma aproximação diferente, sobretudo porque queríamos produzir um livro para adolescentes. 

Aí partimos para a ideia de uma semi-ficção. Uma personagem da imaginação que, ao longo da trama, fosse entrando em contato com as histórias e os trabalhos criados por Elifas ao longo da carreira. Nos interessava esse olhar fresco, de descoberta sobre uma obra que tem ainda muitas possibilidades de diálogo com os tempos que a geração da Rosa, a protagonista do livro, vive hoje.

Palavras: Em que aspectos a obra de Elifas consegue (ou tenta) dialogar com os jovens leitores e suas atuais visões de mundo, já que o livro é voltado para o público juvenil?

João Rocha Rodrigues: Apesar de a obra de Elifas Andreato ser um retrato de momentos importantes da história, da cultura e da vida política brasileiras, ela não é datada. O escritor e jornalista Fernando Morais diz que seria impossível contar a história do Brasil nesses últimos 50 anos sem recorrer às criações de Elifas. 

Acontece que muitos dos temas que ele abordou – seja em contribuições para a música, o teatro, o jornalismo, os movimentos sociais – seguem presentes. E ele continua pensando e produzindo, com o mesmo olhar sensível, para os temas que se apresentam – e muitas vezes nos assombram – a cada dia. Além disso, apesar de seus 75 anos, Elifas segue estabelecendo novas parcerias criativas com artistas de outras gerações, a exemplo do Criolo, que faz uma ponta em Vai, DJ!…

Palavras: Numa época em que o consumo de música é muito diferente do de décadas atrás (sobretudo pelo advento dos streamings), como foi escrever um livro em que as lendárias capas de disco têm um papel primordial na trama?

João Rocha Rodrigues: Os discos de vinil podem ter ficado em caixas esquecidas, em quartinhos de tranqueiras, como acontece em Vai DJ!, mas a força das imagens que os embalam é inegável. O suporte para a música mudou e deve seguir mudando, mas a interpretação que Elifas foi capaz de fazer naquelas capas de disco compõem a obra de artistas como Tom Zé, Paulinho da Viola, Chico Buarque, Adoniran Barbosa, Elis Regina, Vinicius de Moraes… É uma obra composta – músicas e imagens –, e as imagens eram geralmente o primeiro contato do público com os trabalhos desses artistas. Além disso, as capas muitas vezes não se restringiam às faces externas do disco – à embalagem, digamos assim. Havia partes internas, livretos e até cartazes. Era um espaço de criação excepcional para um artista como Elifas, que recorreu a inúmeras técnicas, suportes e materiais para interpretar visualmente as ideias contidas naqueles discos.

Para mim, como autor, foi maravilhoso poder pensar em uma história que unisse tantas camadas presentes nesses discos: o contexto do País, a trajetória dos músicos, as criações de Elifas, as músicas gravadas e até os processos gráficos e os personagens que possibilitaram que as ideias de Elifas saíssem da cabeça e se materializassem em itens disputados nas prateleiras das lojas de disco. Mas, ao mesmo tempo em que são destaque no livro – uma vez que são a face mais conhecida da obra de Elifas –, as capas servem de fio condutor para que Rosa, a protagonista de Vai, DJ!, conheça trabalhos do artista feitos para outras áreas e entre em contato com outros universos da vida cultural e política brasileira.

Palavras: Na sua opinião, qual é o papel da música popular brasileira na história do país? Você acha que a obra “Vai, DJ!” pode contribuir no processo de contar essa história recente do Brasil?

João Rocha Rodrigues: A música popular brasileira talvez seja o principal patrimônio cultural do País. Ela foi e segue sendo capaz de expressar, com extrema precisão e de maneira livre e absolutamente original, quem somos como nação. E novos intérpretes da realidade do Brasil vão surgindo a cada dia, cada qual com sua forma de ler o que somos. E a partir de diferentes gêneros e estilos musicais. Apesar disso, poucos devem discordar que a fase de ouro da música brasileira teve como suporte os discos de vinil, principalmente nos anos 1960 e 1970, com a geração de músicos com idades próximas a de Elifas. 

Há nesse período, apesar das restrições impostas pelo regime militar em vigor, um caldo de cultura que alimentou e segue alimentando a força da música brasileira (e de outras expressões artísticas), a partir das novas criações desses mesmos artistas ou de novas gerações de músicos que puderam criar tendo como régua e compasso o que essa turma produziu. Vai, DJ! navega por essas águas a partir do olhar de uma menina da periferia de São Paulo, que, depois de entrar em contato com obras e histórias que não conhecia, vai encontrando relações com sua própria realidade e estímulos para enxergar o mundo.

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